O incrível caso da mulher que sabe.
- Giordanna Forte
- 26 de set. de 2024
- 5 min de leitura
Esses dias estava mexendo nas minhas anotações - eu tenho um bloco de notas com ideias soltas, frases, pensamentos, roteiros e até uma ideia de livro (esse ainda tenho medo) - e no meio delas havia um título que me deixou curiosa: O incrível caso da mulher que sabe o… Aí pense: o que será que eu sabia?
Então abri e lá estava a frase, O incrível caso da mulher que sabe o que quer e ganha um vácuo do homem que não sabe lidar.
…
…
É, eu fiquei pensando um tempo também e aí me lembrei do sentimento na época que me levou a escrever essa frase e também do quanto já ouvi amigas minhas contarem histórias parecidas. E como esse sentimento sempre traz uma raiva com aquela preguiça de revirar os olhos, achei melhor escrever uma história cheia de enfeites pra não ser mais um texto feminista não lido… mesmo sabendo que serei entendida somente pelas mesmas mulheres e amigas que já se sentiram assim. Mas vamos lá, eu sou uma sagitariana otimista.
Era uma vez uma mulher muito bem resolvida. Fim. HAHAHAHA. Brincadeira.
Era uma vez uma mulher bem resolvida. Vamos dar um nome a ela: Joana - eu gosto desse nome, ele tem força e um plot twist que pode caber nessa história. Joana é uma mulher que sabe os seus objetivos, não depende e nem vai depender de ninguém emocionalmente porque já gastou um bom dinheiro com anos de terapia, tem sua independência financeira e gosta de se divertir e aproveitar os momentos bons que a vida dá de vez em quando.
Era um dia nublado, daqueles que não dá vontade de sair de casa e tem uma ameaça de garoa que faz você querer ter companhia. No caso de Joana, uma mulher solteira, era hora de dar uma pesquisada nas possibilidades. Não, Tinder nunca foi o seu forte, na maioria das vezes é uma propaganda enganosa de ambos os lados que tentam se vender quase numa espécie de book rosa ou azul ou a cor que você achar melhor, só que ninguém ganha dinheiro, só se gasta. E sem contar na repetição da troca de currículos pra ser no mínimo aceitável, nada contra… Joana conhecia casos e histórias que realmente fizeram sentido, mas com ela, no auge dos seus 38 anos, já dava preguiça.
Então, nada melhor que o bom e velho stories pra puxar papo com aquele flerte (ainda se fala isso?).
E lá foi Joana passar seu dedo pela tela e, quando menos esperava, ao invés de puxar, ela foi puxada por um smile de olhinhos de coração em um stories seu lá do início da manhã. Mas calma, respire, não demonstre desespero, vai fazer um café, aperte seu tabaco e só então visualize, assim como quem estava ali e por um acaso viu o smile disfarçado de oi.
É que mesmo já sabendo dos fins, Joana não podia desperdiçar o momento e, pra chegar nos fins, tem que fingir estratégias no meio. E vamos admitir, tem jogos que são divertidos pro ego de todo mundo.
Então Joana, depois de meia xícara de café e dois tragos no seu tabaco, curtiu o tal smile. Ok… fiz minha parte, ela pensou. Mas por mais que Joana tivesse pensado nisso, pra ela não fazia sentido algum, se ela queria algo, pra que fingir que não queria pra fazer o outro achar que precisa fazer querer? Aff, quanta perda de tempo, amanhã pode fazer calor!
…digitando…
rsrs como pode?
Certo, já que a atitude veio da Joana, que seja pelo menos instigante…
… digitando…
Pronto! Deu certo.
-rsrs o que?
-Um smile desses numa foto dessas.
-hahaha eu gostei.
-que bom, assim não iludo ninguém kkkk
-era pós treino?
-pós yoga… hot yoga, por isso to toda suada.
-e vermelha…
…digitando…
Ok, entramos no papo do duplo sentido. É aquela hora que um instiga o outro, pra ver se o interesse é mútuo. E sim, a gente sabe que é, já faz tempo que os foguinhos perambulam nas DMs, então já que hoje ela puxou o papo que ele só alimentava com emojis, vamos agir, afinal já tá bem entendido a vontade dos dois. E depois de algumas frases de efeito em duplo sentido, Joana foi direta ao que lhe interessava.
-E hoje, vai fazer algo?
-Ainda não sei, pq?
-Não tá um bom dia pra sair… a gente podia se ver
-Verdade.
-Aqui em casa?
-Pode ser uma. Te aviso quando me liberar.
-Ótimo. Me chama no Whats, melhor.
Bom, se isso fosse um conto de fadas, eu poderia dizer que Joana encontrou… como é o nome dele mesmo? Pode ser Carlos, Carlos é um bom nome aqui.
Bom, se isso fosse um verdadeiro conto de fadas é claro que Carlos e Joana se encontrariam, se apaixonariam e seriam felizes para sempre. Mas sabemos que esse é o mundo real e as fadas aqui não existem e se existem, seriam lindas, loiras, magras e feitas por inteligência artificial.
A verdade é que Joana esperou um Whats que nunca chegou, esperou um emoji que sumiu e dali em diante, foram poucas conversas interessantes e nenhuma de duplo sentido. E aí ela se questionou, Carlos a fez questionar seus valores e atitudes, fez ela se perguntar o que havia feito ou escrito de errado. Será que ela disse algo ruim? Ou será que deixou de dizer algo? Será que ele não entendeu? Poxa, bater um papo, trocar uma ideia e transar gostoso ... Qual o problema nisso?
-Joana! Por que um homem que nem faz parte da sua vida causou tantos questionamentos?
Se fosse uma história em quadrinhos, aqui com certeza teria uma onomatopeia, tipo boom! Mas estamos falando de um conto, um conto real, onde mesmo não havendo fadas, as bruxas ainda se salvam. Essa fala, que abriu um buraco na cabeça de Joana foi de uma amiga no meio da mesa de bar, depois que ela abriu o caso.
E sinceramente, eu deveria encerrar o conto aqui.
Mas a verdade é que não dá pra encerrar sem perguntar o por que ainda nos julgamos dentro da perspectiva de um cara? E porque esse cara ainda precisa se sentir o tal príncipe que batalha pela conquista da tal princesa? A gente ainda precisa estar em torres inalcançáveis para mostrar o nosso valor? E porque ainda é tão importante o valor do homem sobre nós? Por que?!!!
Já estamos em 2024, Google, Kindles, Instagram... e ainda vivemos em um tempo onde os homens, em sua maioria, não sabem lidar com as nossas atitudes e precisam dessas tais "batalhas" pra se sentir algo além de nós ou sobre nós. E o pior é que nós e até as mulheres mais letradas dentro do viés feminista, ainda caímos nessas armadilhas, pois elas caminham pelo nosso inconsciente, pode não ser por uma DM, mas em algum momento esse “valor” já fez uma mulher se questionar de alguma forma e quiçá, duvidar da sua idoneidade.
E se esse conto tivesse um final, Carlos dentro do seu palácio de vácuo a deixaria numa bela prateleira pra quando precisasse. Afinal, tem sempre uma princesa presa numa torre, deixa pra quando ele não quiser se esforçar, aí ele manda outro emoji. Mas dessa vez, Joana não vai curtir, nem responder, não por joguinho, mas porque não vai perder seu precioso tempo com mais um homem que não sabe lidar com uma mulher que sabe que só quer gozar e nada mais. E aí minhas caras leitoras (eu adoro dizer isso!), desse conto todas já sabemos o final.
Lá vai o Carlos, mais uma vez na história, chamar uma Joana de maluca!
P.S: Eu avisei do plot twist.
Texto perfeito sobre a - tentativa de - vida amorosa/sexual de todas as mulheres! Quantas vezes duvidei de mim e dos meus valores baseado na indiferença de um homem por mim?!
Texto incrível, Gio. O meu carinho sempre! ❤️